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Álvaro Carva, 33º

SEDE SOCIAL

 

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Supremo Conselho de Portugal
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Num mundo em perpétua evolução, o Homem procura um sentido para a sua vida entre o tumulto das alterações que vêm perturbar o quotidiano.
A sociedade vê-se sacudida por sobressaltos que chegam de todas as partes. A Maçonaria, que é um fato social, não escapa a essa regra e isso é perfeitamente compreensível, porque o maçon é um ser que vive o seu tempo e não fica à margem da agitação que o rodeia.
Mas a Maçonaria, na tranquilidade dos seus templos, apresenta-se como uma mansão de serenidade, que pela reflexão que suscita, protege os seus adeptos dos rudes golpes recebidos do mundo exterior. Isto é perfeitamente certo para o Rito Escocês Antigo e Aceite, cuja divisa é, e relembro, Ordo ab Chao.


O primeiro sentido deste tema refere-se ao universo colocado na Ordem a partir do confuso magma que caracterizava na origem. Similarmente, na sociedade moderna faz-se referência à boa organização de uma instituição que afasta a desordem para fazer reinar a harmonia entre os seus membros.

Deste modo, alguns adeptos prescindiriam de boa vontade da presença da Bíblia no altar dos juramentos para substituí-la por um volume, sem especificação. Isto significa desconhecimento do ensino do Rito Escocês Antigo e Aceite, cujas lendas temáticas, em todos os graus, referem-se a episódios da Bíblia, começando pela construção do Templo de Salomão.


Desde a sua fundação, a Maçonaria é de inspiração judaico-cristã.


Pertencemos a Lojas de S. João, como testemunha o Volume da Lei Sagrada, aberto no prólogo do 4º Evangelho. Podemos procurar esse evangelho noutro qualquer livro, mas não encontraremos menção dele. O único caso em que se pode tolerar a presença de outro Volume da Lei Sagrada, junto à Bíblia, é o do momento de prestação do juramento de um profano, no dia da iniciação, se pertence a uma religião diferente. Sem exclusão da Bíblia, junto ao Esquadro e o Compasso, ostentando as Três Grandes Luzes da Maçonaria. A Bíblia representa um símbolo magno do Rito Escocês Antigo e Aceite e não um livro de qualquer religião revelada, mesmo que seja a sua.


Outro erro que se comete, igualmente pernicioso, consiste em querer desalojar a Bíblia, substituindo-a por um livro em branco, ou até pelo livro da Constituição, como se faz noutros ritos. Qualquer pessoa sensata não poderá evitar as dúvidas acerca do carácter sagrado de um livro da Constituição que não tem mais que um valor puramente administrativo e contingente.


Por outro lado, um livro em branco não é senão o arquétipo carente de sentido.

Em primeiro lugar, em que página deveria ser aberto esse Volume da Lei Sagrada?


E escrevendo mais profundamente: o Volume da Lei Sagrada é, por definição, o Símbolo da Tradição do nosso Rito. Porém, Tradição significa transmissão. A presença de um livro em branco significa que o Rito Escocês Antigo e Aceite não tem nada a transmitir; nem sequer a origem das nossas lendas. Isto seria a negação, pura e simples, do ensinamento do Rito.
Como contrapartida, colocar-se-ia o problema do Grande Arquiteto do Universo. Desde que se eliminasse a dimensão sagrada dos nossos Templos, para quê complicar-se a questão com esse símbolo do transcendente?


A Jurisdição subscreveu a declaração de princípios da Convenção de Lausana de 1875 que reconhece e proclama a existência de um Princípio criador, reconhecido como Grande Arquiteto do Universo. Mas dizer princípio é dizer primeira causa ativa e original. Inclusive o espírito mais refractário a toda a metafísica se vê forçado a admitir que:


Depois da Fonte (ou antes dela), está a energia.
Depois da Energia está a Lei, isto é, um conjunto de regras.
Depois da Lei está o Plano que permite o ordenamento de regras.
E o Plano faz aparecer o Arquiteto que o concebeu.


Isto está perfeitamente de acordo com o conceito de Grande Arquiteto do Universo, ao mesmo tempo símbolo menos redutor e menos determinante que a interpretação de Deus revelado das religiões e enfoque metafísico acessível à razão humana.
O conceito tem, entre outras, a vantagem de conciliar as religiões dogmáticas e as religiões que não reconhecem a existência de um Deus criador ou de um demiurgo. Daí a sua capacidade para “reunir o que está disperso”, definição lapidar do universalismo do Rito Escocês Antigo e Aceite que permite ascender do incognoscível ao cognoscível, de vincular o visível e o invisível, de propor uma união do humano com o divino.


Querendo comunicar uma prática que remonta à mais longínqua antiguidade (ainda que a Maçonaria só fosse institucionalizada no século XVIII, o seu código de conduta é tão velho como as antigas confrarias de construtores), alguns espalham perturbação no espírito dos Irmãos insuficientemente instruídos nas Histórias e nas raízes do Rito Escocês Antigo e Aceite.


O Rito Escocês Antigo e Aceite é um rito iniciático racional. Não há que confundir tradição com conservadorismo, da mesma maneira que não há que confundir espiritualidade com religião, modernidade e modernismo.


Sede Social da Ordem, Zénite em Portugal, 11 de novembro de 2023

III Soberano Grande Comendador do Rito Escocês Antigo e Aceite do Supremo Conselho de Portugal,

Álvaro Carva, 33º.

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